Regional do Baixo Amazonas comemora seis anos de realização do primeiro transplante renal

Desde 2016, já foram 75 procedimentos no total, entre eles o modelo preemptivo, inédito na região

Seu Raimundo Soares, de 56 anos, jamais vai esquecer do dia 3 de novembro de 2016. Foi nesta data que ele ganhou uma vida nova, após passar cinco anos e sete meses fazendo diálise. O morador do município de Terra Santa recebeu um rim do irmão, Leandro Soares. Além da mudança de vida, ele também ficou marcado na história do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), em Santarém.

“Eu fiz os exames em Manaus e consegui a transferência para o Regional. O meu irmão trabalhava em Trombetas e após os procedimentos, descobrimos que ele era compatível. Ele disse que iria doar e ficamos aguardando para fazer o transplante em Belém, e veio a notícia que a gente ia fazer a cirurgia em Santarém mesmo. Graças a Deus, deu tudo certo”, lembra o ex-ajudante de pedreiro.

Ele e o irmão participaram do primeiro transplante renal da unidade, que pertence ao Governo do Estado do Pará e é gerenciada pela entidade filantrópica Pró-Saúde. O procedimento durou seis horas e até hoje o seu Raimundo faz acompanhamento da saúde no HRBA.

“Eu me sinto bem, feliz. O meu irmão também está bem. Até me emociono quando falo. Todos me receberam de braços abertos no Regional, enfermeiros, técnicos, médicos. Só mesmo gratidão porque eles fizeram tudo por mim”, comemora.

De 2016 até aqui, 75 transplantes renais foram realizados pela equipe médica do HRBA, sendo 42 intervivos – quando geralmente o doador é um parente do transplantado – e mais 33 de doadores falecidos. O trabalho durante este período tornou a unidade referência no serviço, não só no Oeste do Pará, mas também em todo o Estado e na região Amazônica.

“O sentimento é de missão cumprida. Esses seis anos representam muito trabalho. Nos preparamos muito para o início dos transplantes, desde a criação da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT), passando pela com a captação de órgãos, até o nosso primeiro transplante. Agradecemos a todos que nos ajudaram para que tudo isso seja possível. É um feito para a sociedade santarena, do Oeste do Estado e paraense de maneira geral”, ressalta o médico nefrologista e responsável técnico do serviço de transplantes do HRBA, Emanuel Espósito.

“A realização de todos os transplantes no HRBA fez com que pacientes pudessem sair de uma máquina de hemodiálise para ter uma vida quase normal. O nosso programa de transplantes é um sucesso não só para o Oeste do Pará, mas também para a região Norte do país. A parceria entre o Governo do Estado e a Pró-Saúde tem buscado levar o que se tem de melhor em termos de tecnologia e assistência hospitalar à população”, afirma o diretor Hospitalar da unidade, Hebert Moreschi.

Transplantes em meio à Pandemia

Com a atuação de unidades de saúde no combate à Covid-19, muitos serviços foram afetados e reduzidos, como os transplantes renais, por exemplo. No entanto, o HRBA foi o primeiro hospital do Pará a retomar estas cirurgias, mesmo em meio ao auge da pandemia do coronavírus, em junho de 2020, seguindo todos os protocolos de segurança.

“Fomos um dos poucos hospitais que transplantou durante a pandemia. Chegamos a ter 70 leitos destinados para pacientes com covid, mas no dia em que houve a oferta dos rins nós tínhamos leitos disponíveis e fizemos os transplantes”, lembra o médico nefrologista, Henrique Moreira Rebello.

Transplante Preemptivo

Em junho deste ano, a equipe de transplantes do HRBA deu mais um importante passo no atendimento de excelência ao paciente. Foi realizado o primeiro transplante renal preemptivo – procedimento com doador vivo e que ocorre antes do paciente renal crônico precisar ir para a máquina de hemodiálise para a filtragem do sangue.

“É a melhor modalidade, porque nós já começamos a fazer os exames e avaliações para o transplante antes que esse paciente tenha a falência total dos rins. Isso permite uma maior comodidade ao paciente e também uma maior durabilidade do rim. O transplante preemptivo é o que tem o maior índice de sucesso”, destaca Emanuel.

Incentivo à doação de órgãos

A referência no serviço de transplantes renais é uma grande conquista para o Regional do Baixo Amazonas, mas os números de procedimentos poderiam ser até maiores caso houvesse mais oferta de órgãos a serem doados.

O HRBA conta com uma Organização de Procura de Órgãos (OPO), setor que atua na identificação, manutenção e captação de potenciais doadores em toda a região Oeste do Pará. Mas os profissionais enfrentam, ainda, resistência de familiares para a doação dos órgãos de entes falecidos.

Para ser um doador de órgãos após a morte, é necessário o diagnóstico de morte encefálica, que consiste na parada irreversível das funções do cérebro, processo que conta com um rigoroso protocolo médico para a determinação. Hoje, um paciente que pretende ser doador não precisa deixar nenhum documento escrito, mas sim manifestar o desejo à família, para que este seja respeitado.

“Só se faz transplante se tem rim disponível. Esta é a nossa grande luta para que as famílias tenham consciência do trabalho que é feito, do fechamento de diagnóstico de morte encefálica, da nossa responsabilidade em expor isso à família. Apesar do momento difícil, contamos com a benevolência dessas pessoas para a melhor a vida de pacientes que aguardam a doação desse órgão”, concluiu Henrique.

A unidade promove constantemente ações de conscientização para o aumento da doação de órgãos, o que proporciona a possibilidade de cada vez mais pessoas terem uma vida nova.

“Hoje eu estou aqui na minha terra, na minha casa, com a minha família, meus amigos. Eu estou muito feliz, graças a Deus. Com certeza, o transplante foi para mim uma nova chance de viver”, celebra Raimundo Soares.

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