Em 112 captações durante quatro anos, foram realizados transplantes de 448 órgãos e mais de 600 córneas neste período
Setembro Verde – O Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE), localizado em Ananindeua, é a principal unidade no Pará responsável pela captação de órgãos e tecidos. Na última quarta-feira, 18, representantes da unidade participaram das ações do Instituto Federal de Educação do Pará, em Castanhal, com o objetivo de esclarecer os estudantes sobre fatos e mitos em relação a doação de órgãos. A ação foi desenvolvida junto à Central Estadual de Transplantes (CET-PA) e outras unidades de saúde.
A ação integra a campanha do Setembro Verde, que estimula a conscientização sobre o importante papel de todos na continuidade da vida. A cor verde também faz alusão a data de 27 de setembro, no qual celebra o Dia Nacional da Doação de Órgãos. O Metropolitano é administrado pela Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, por meio de contrato de gestão com o governo estadual.
O HMUE ocupa um papel estratégico e logístico, sendo o responsável por 90% das captações de órgãos no Pará, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Na unidade, a coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), Fátima Albuquerque, explica que mais de 10% das vítimas de trauma crânio encefálico evoluem para diagnóstico de morte encefálica. “Trata-se de um estado clínico definido pela perda irreversível das funções neurológicas. As causas estão relacionadas a traumatismo por acidente de trânsito, ferimento por arma de fogo, e acidente vascular”, diz.
Em quatro anos, foram realizadas 112 captações de rins, fígado, coração (válvulas cardíacas) e córneas no hospital nesse período. Em números absolutos, as doações proporcionaram ao todo o transplante de 448 órgãos e 628 córneas. Apenas em 2018, por exemplo, 43 usuários foram diagnosticados com morte encefálica. Desse total, 41 foram validados como potenciais doadores de órgãos e tecidos, cujas famílias foram entrevistadas para solicitação de captação. Mais da metade (56%) não consentiu.
As barreiras na doação de órgãos
Para Fátima, ainda existem barreiras sociais que impedem outras de vidas de serem salvas. A própria incompreensão sobre a morte encefálica no início do luto é um dos fatores, pois os familiares entendem que a vida só acaba quando o coração para de bater. “É um momento muito delicado, pois há um conflito entre a alegria de quem vai receber a doação e a tristeza de quem perde um ente querido. Em nossa experiência, para as famílias doadoras, com o tempo o ato se torna um conforto e se torna uma continuidade da vida”, explicou.
A coordenadora apontou outros motivos que impedem a doação registrados nas entrevistas dos familiares. As convicções religiosas são relatadas, sobretudo quando se referem à possibilidade de ressuscitação. Além disso, a logística de liberação do corpo durante o processo de captura pode demorar mais de 24 horas, tornando o sofrimento da família ainda mais extenso.
A Lei 9.434 de 1997 dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo para transplante e tratamento. Ela determina que a captação só pode ocorrer após exames de triagem de infecção conforme normas do Ministério da Saúde. Estabelece também que a constatação de morte encefálica deve ser registrada por médicos não participantes da retirada e do transplante, mediante critérios definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina.
A doação também somente é possível com autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau. Esse fator também é um desafio, pois é necessário consenso familiar e, no momento de dor, há discordâncias quanto ao tema e a vontade do possível doador em vida.
Durante a gincana em Castanhal, esses aspectos foram debatidos, além da importância de informar à família sobre a intenção de doar órgãos. Os estudantes também puderam saber mais sobre as possibilidades de doação em vida de rins, parte do fígado ou pulmão e medula óssea, desde que o doador esteja apto e o procedimento não prejudique a própria saúde.
Cerimônia
No Hospital Metropolitano, as luzes verdes na fachada são acesas todas as noites em referência ao mês. No dia 25, às 8h30, está prevista uma solenidade em homenagem aos doadores que passaram pela Unidade, com culto ecumênico e apresentação teatral.
Sobre o HMUE
Referência no tratamento de média e alta complexidades em traumas e queimados para a região Norte pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE), localizado em
Ananindeua (PA), dispõe de 198 leitos operacionais nas especialidades de traumatologia, cirurgia geral, neurocirurgia, clínica médica, pediatria, cirurgia plástica exclusivo para pacientes vítimas de queimaduras, além de leitos de UTI.
O HMUE recebe pacientes da Região Metropolitana de Belém, dos diferentes municípios do Pará e também de outros estados. Em 2018, realizou mais de meio milhão de atendimentos, entre internações, cirurgias, exames laboratoriais e por imagem, atendimentos multiprofissionais e consultas ambulatoriais.