Obesidade infantil: uma epidemia global

Nos últimos 30 anos, a frequência de crianças com excesso de peso no mundo triplicou. Segundo dados do IBGE, em 2010, uma a cada três crianças brasileiras, entre 5 e 9 anos, estavam acima do peso. Mais alarmante ainda, é saber que, em 1975, apenas 3,7% de crianças e adolescentes, entre 10 e 19 anos, estavam com excesso de peso. Em 2008, esse número passou para 21,7%.

Neste Dia da Conscientização Contra a Obesidade Mórbida Infantil, celebrado em 3 de junho, aproveitamos para questionar quais fatores foram importantes para tão significativa mudança e aumento tão expressivo de crianças afetadas. Sabemos que existem várias causas para obesidade em crianças e adolescentes, desde fatores familiares e genéticos, doenças hormonais, uso de alguns medicamentos e alterações psiquiátricas, além de outras menos frequentes.

Mas vamos além, já que os fatores citados estavam presentes na década de 70 e permanecem hoje, há que se ter algum fator externo que colabora grandemente para essa epidemia. Se voltarmos no tempo, lembraremos que na década de 1970 andávamos de bicicleta, jogávamos bola quase todo dia, nadávamos, corríamos, íamos para a escola andando. Ou seja, não ficávamos o dia todo em frente a uma televisão, computador ou celular.

Também sabemos que nossos hábitos alimentares mudaram muito. Alimentação de fast food passou a ser usada como forma de compensar filhos pela ausência dos pais no cotidiano. Sanduíches gordos regados a molhos, pizzas, salgados e massas, todos em quantidade não regrada, além de sucos e refrigerantes muito calóricos e doces com grande quantidade de carboidratos agora fazem parte do dia a dia das crianças.

Isso se deve também, em grande parte, na melhora do poder aquisitivo da população e na triste ideia de que “eu não podia ter isso quando criança, mas meu filho pode”. Para piorar a situação, o leque de medicamentos para tratamento da obesidade é muito restrito e não pode ser usado em todas as faixas etárias.

No entanto, em casos graves que não tiveram resposta a mudança nos hábitos de vida, essas medicações e até mesmo cirurgias já estão sendo usadas. Mas o melhor que se pode fazer é prevenir, estimulando a criança desde pequena a fazer alguma atividade física que goste, incentivando a escolha de legumes, verduras e frutas, auxiliando a diminuir a quantidade de carboidratos, além de determinar horário e locais certos para as refeições.

Orientações sobre como comer, devagar e mastigando bem os alimentos, para que assim as substâncias responsáveis pela saciedade sejam liberadas e interrompam a fome, também são essenciais. Outras ações como limitar o horário de uso de jogos virtuais, televisão, celular podem ajudar.

Obviamente essas ações são eficazes se precedidas de uma avaliação hormonal, que exclua outras causas de obesidade infantil. Criar uma rotina com hábitos de vida mais saudáveis é a única forma de não deixar essa doença, que traz consigo centenas de outras comorbidades potencialmente fatais, atingir aqueles que mais amamos, nossas crianças.

  

Por Manoel Alvarenga, médico endocrinologista do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), em Santarém (PA), gerenciado pela Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar.

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