Humanização

No Hospital de Campanha do Hangar, comunicação alternativa humaniza relação entre profissionais de saúde e pacientes de UTI

Na unidade hospitalar, pessoas em tratamento intensivo contra a Covid-19 se comunicam com o auxílio de imagens e frases

Durante a internação para o tratamento da Covid-19, alguns pacientes precisam passar por procedimentos mais invasivos como, por exemplo, intubação e traqueostomia. Dentro do Hospital de Campanha do Hangar, criado pelo Governo do Estado exclusivamente para receber pessoas acometidas pelo novo coronavírus, não é diferente. Em alguns desses casos, essas intervenções necessárias podem causar o enfraquecimento momentâneo da voz.

“Quando o paciente volta, que ele sai do coma, em alguns casos, não consegue se expressar como fazia antes da doença. Ele vai reaprendendo muitas coisas, inclusive falar”, diz a médica intensivista, Zbyeth Tadaiewsky.

Pensando nisso, para facilitar a comunicação desses pacientes durante a internação e aproximá-los, um grupo de profissionais que atua na unidade hospitalar desenvolveu materiais de comunicação alternativa, que contam com figuras, com foco em quem não sabe ler, e textos.

Entre as opções mostradas estão as frases “estou com medo”, “tenho dúvidas sobre o tratamento”, “me conte uma notícia do mundo”, além de outras necessidades como fome ou sede.

“Muitos dessas pessoas não conseguem falar que estão com frio, sede ou outros sentimentos e cabe a nós, que estamos na assistência focados na melhora deles, entender isso. Depois que passamos a usar esse conteúdo aqui, essa relação mudou. Direitinho e sem nenhum esforço, eles conseguem expressar o que precisam”, diz a enfermeira Goretty de Fátima da Silva.

Entre os internados que tiveram a comunicação facilitada, a profissional lembra de um que emocionou a equipe. “Um paciente chamou bastante atenção e nos deixou emocionados. Mostramos as figuras e logo ele apontou para a que dizia que estava com sede. Depois, ele pediu para saber alguma notícia do mundo, nós falamos que a vacinação já estava ocorrendo e que, provavelmente, os pais dele já estavam vacinados. Ele chorou bastante e nós choramos também” lembra.

Experiência do paciente

Raphael Carvalho Derze, 37, veio de Benevides, Região Metropolitana de Belém, e ficou um mês internado em tratamento intensivo. Para ele, o engajamento da equipe foi fundamental para dar força e crença no tratamento e recuperação.

“O tratamento que todos esses profissionais me deram foi incomparável, eu lembro até hoje da voz da médica dizendo para eu não desistir. No início, eu só queria dormir, sentia raiva e achava que não precisava estar ali, mas depois entendi que eles só queriam me ajudar para que eu saísse logo daquele quadro”, conta.

O microempresário relembra momentos em que se sentiu acolhido e ouvido. “Quando passei pela extubação, não tive tanta dificuldade com a voz, mas as enfermeiras me mostravam as imagens e aquilo me ajudava porque eu sabia que elas estavam lá e se preocupavam com os pequenos detalhes, desde saber se eu estava triste ou com medo. Minha gratidão será eterna”.

Humanização na assistência – Essa é mais uma estratégia para facilitar a recuperação de pacientes internados para o tratamento da Covid-19 no Hospital de Campanha do Hangar, que é gerenciado pela Pró-Saúde. A unidade inclui estratégias de acolhimento, como musicoterapia, chamadas de vídeo entre pacientes e familiares, e oficinas de artesanato.

“O nosso principal objetivo é reintegrar esses pacientes e tornar esse período de internação o mais acolhedor e empático possível. É fundamental que todos os sentimentos negativos dessas pessoas, como dores, traumas e medos, sejam minimizados para que elas, o mais rápido possível, se recuperem e retornem aos seus lares”, diz Josieli Pinheiro, diretora assistencial do Hospital de Campanha do Hangar.

Hospital de Campanha do Hangar – Maior unidade do norte do país criada para o tratamento de pessoas com Covid-19, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), o hospital já atendeu mais de 7 mil pessoas acometidas com o vírus, do Pará e outros Estados. Desse número, 337 foram transferidos, 4.846 receberam alta e 2.027 não resistiram à doença. Hoje, a unidade conta com 160 leitos e ocupação de 29%.

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