Assistência

Hospital de Campanha do Hangar cria apoio psicológico para familiares ou pessoas próximas aos pacientes com covid-19

O cuidado tem como objetivo amenizar angústias, medos e até o sentimento de culpa

A Covid-19 deixa um rastro de destruição que começa com o doente e atinge diretamente seus familiares ou pessoas próximas.

“Muitas pessoas com parentes em tratamento contra a covid-19 manifestam aflições, medos, insegurança e até mesmo culpa. Isso precisa ser trabalhado e ressignificado”, explica Adriany Costa, psicóloga intensivista do Hospital de Campanha do Hangar, principal unidade de toda a região Norte do país, para tratamento de pacientes com covid-19.

Ela acrescenta que, além do sentimento de aflição, a culpa gerada em algumas pessoas está relacionada com a transmissão da doença para membros da família, podendo ocasionar transtornos como depressão.

É neste contexto que o Hangar criou um projeto para acolher familiares ou pessoas que acompanham os doentes internados no hospital de campanha.

Trata-se do projeto “Sala de Espera”, iniciativa que estende o cuidado psicológico e emocional às famílias que tenham interesse neste tipo de acompanhamento.

Os atendimentos acontecem na própria unidade, em local reservado e separado da assistência aos enfermos.

“Neste processo, os psicólogos conseguem desenvolver uma postura para minimizar os impactos das mudanças ocorridas neste momento da vida, trazidas pela doença e o medo da pandemia”, acrescenta a psicóloga. A profissional destaca que este trabalho também é capaz de contribuir no tratamento junto aos pacientes.

“A forma como a pessoa se relaciona com os aspectos mentais é capaz de favorecer ou dificultar a relação com o corpo e saúde. A comunicação da palavra, do gesto, da escuta e do olhar também são ações de humanização que afetam todos ao redor”, destaca.

Criado pelo Governo do Pará, o Hospital de Campanha do Hangar é gerenciado pela entidade filantrópica Pró-Saúde, sendo a maior unidade hospitalar no tratamento de pacientes com a Covid-19. Desde a sua implantação, cerca de sete mil pacientes já foram atendidos e mais de quatro mil recuperados da doença. Ao todo, o hospital conta com 220 leitos, entre clínicos e de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Rede de cuidado

O “Sala de Espera” é realizado de segunda a sexta-feira e conta com sete psicólogos que se revezam em dois horários de atendimento. O primeiro, no período da manhã, das 8h às 12h, e o segundo a tarde, das 14h às 17h, sem a necessidade de agendamento prévio dos interessados.

“O projeto não tem nenhuma ligação com os boletins médicos. No Sala de Espera o trabalho é desenvolvido ao familiar com paciente internado na unidade e que sente necessidade de apoio psicológico”, ressalta Josieli Ledi, diretora Assistencial.

No Hospital de Campanha a humanização norteia a assistência, sendo realizada em diferentes ações na unidade, como a musicoterapia, chamadas de vídeo entre pacientes e familiares, atividades terapêuticas com jogos de tabuleiro e artesanato.

Para Elizabeth Cabeça, responsável pelo setor de Humanização do hospital, as ações integram o trabalho assistencial e aumentam o sucesso na recuperação. “Quando se fala em humanizar o trato e relações, falamos no cuidado que está no ouvir, no falar e em dar espaço, também, para que o outro se expresse”, explica.

Experiência dos familiares

Karissa Monike de Jesus tem 32 anos e nunca ficou tanto tempo distante da mãe, Mônica Maria de Jesus, de 53, que está internada no Hospital de Campanha há sete dias. Com origem do município de Marabá, no sudeste do Pará, ela e o pai, José Francisco de Souza, compareceram na unidade em busca de auxílio psicológico.

“Para mim, a experiência foi excelente. Meu pai e eu chegamos aqui no hospital muito angustiados por não poder ver a pessoa que amamos. A psicóloga nos acolheu, confortou e explicou o processo que minha mãe estava passando”, relata Karissa.

Já o pai, microempreendedor, 55 anos, conta que a distância provocada pela doença não é fácil, porém se sentiu mais tranquilo após a participação no projeto. “Não é fácil, mas saio daqui mais calmo, esperançoso e confiante. Neste momento, só tenho a agradecer o cuidado e amparo, não só com a minha esposa, mas com a minha família”, comenta.

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