Artigo – Ainda a “quarentena”

Depois de quatro meses da presença mais agressiva da Covid-19 entre nós, surgem alguns riscos em nosso comportamento.

O cansaço nas atitudes de prevenção, o que não seria surpresa, traz a possibilidade de minimizar o perigo da contaminação: “não me aconteceu nada até hoje e, comigo, não vai acontecer”.
A pessoa, então, baixa a guarda e se expõe ao risco.

Esse vírus não envia aviso prévio. É pior que tsunami, não dá tempo de correr. A pessoa, quando sente, já era: está contaminada.

Há, no entanto, um outro problema grave: quando a pessoa, tendo uma situação social razoável ou um bom convênio de saúde, sabe que se contaminar, terá a possibilidade de encontrar, ao seu alcance, um bom tratamento adequado e superar a contaminação da doença.

Sabemos que, aqui e ali, os hospitais estão trabalhando nos seus limites, sob pressão. O pessoal da área de saúde está se desgastando física, espiritual e psicologicamente na exposição permanente à possibilidade da contaminação, presenciando o afastamento de seus colegas, alguns vitimados pela doença e outros que, infelizmente, chegaram a óbito.

Vemos, pelos telejornais, que pessoas mais humildes e mais pobres não procuram — ou não conseguem chegar — a tempo aos recursos de saúde. Morrem, nas peregrinações entre hospitais, a procura de um leito de UTI.

Vejo, aqui, o peso de uma responsabilidade grave, para quem se descuida na prevenção pessoal, confiando nas suas possibilidades de recursos hospitalares. Ocorre que, quando, possivelmente, se acontecer sua contaminação, a pessoa vai ocupar um leito de hospital e impedir que outra vida em risco seja salva — vida de alguém que se protegeu ao máximo, dentro de suas possibilidades.

Por ocasião do pico local de contaminação, disse a uma pessoa amiga, que, por ter ela contas a pagar, insistia em não fechar, por uns dias, o seu (próprio) local de trabalho (onde há permanente movimentação de pessoas):

— Se você ou alguém de sua família se contaminar, o prejuízo vai ser maior!

Não somos de vidro! Um pouco de humildade faz bem a todos nós: distanciamento, álcool em gel, lavar as mãos, ficar em casa o mais possível e rezar!

Proteja-se e proteja aos outros!

Dom João Bosco Óliver de Faria

Arcebispo Emérito de Diamantina (MG)

Presidente da Pró-Saúde

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