Saúde: Sobre o uso consciente dos antibióticos. Um desafio para a saúde pública

Fonte: PETER KODWO APPIAH TURKSON – Observatório Romano – Edição 51-52 (PT-PT)

Publicamos a mensagem do cardeal prefeito do Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral por ocasião da semana mundial para o uso consciente dos antibióticos (12-18 de  novembro).

A semana de conscientização mundial sobre o uso de antibióticos (World Antibiotic Awareness Week [WA AW ]), que tem lugar todos os anos no mês de novembro, é a ocasião para reafirmar a urgência e a importância mundial deste crescente problema de saúde pública. A finalidade desta iniciativa é «aumentar a conscientização global em relação à resistência aos antibióticos (Antimicrobial Resistance [AMR]) e encorajar as melhores práticas entre o público em geral, os agentes da saúde e os responsáveis políticos para evitar um ulterior surto e propagação da resistência aos antibióticos».1

Desde a sua descoberta, os antibióticos foram a pedra angular da medicina moderna e transformaram a saúde da humanidade salvando milhões de vidas e aliviando numerosos sofrimentos. «Contudo, o uso inapropriado e o abuso de antibióticos nos homens e nos animais favoreceram o surto e a propagação da AMR, que se verifica quando micróbios, como as bactérias, se tornam resistentes aos fármacos usados para os combater».2

Infelizmente, o problema está a agravar-se e a difundirse, como consequência, entre outros, de programas inadequados de prevenção e controlo das infeções, de remédios de baixa qualidade, de uma insuficiente regulamentação no respeitante ao uso de antibióticos na população, nos alimentos, nos animais e na agricultura, assim como as dificuldades de acesso aos serviços de saúde, incluídos os testes diagnósticos e laboratoriais, e devido à contaminação da água, do solo e das cultivações.

A resistência aos antibióticos representa hoje um grande desafio para a saúde pública mundial pois ameaça a prevenção e o tratamento eficazes de um número crescente de infeções causadas por bactérias, parasitas, vírus e fungos. Se não for enfrentada, o contínuo surto e difusão de doenças resistentes aos fármacos põe em risco a medicina moderna, e representa um desafio para a saúde e o desenvolvimento das nações enquanto «torna mais difícil salvaguardar a saúde e o bem-estar das pessoas mais expostas a infeções mortais, sobretudo as parturientes, os recém-nascidos, os pacientes com determinadas doenças crónicas e quantos se submetem a quimioterapia ou a operações cirúrgicas»3 e ameaça, em particular, «centenas de milhões de pessoas que não têm acesso à assistência médica e são mais suscetíveis a doenças relacionadas com a resistência antimicrobiana».4

Como prefeito do Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral, associo-me à comunidade internacional na exortação a agir com urgência a fim de limitar o surto e a difusão da resistência aos antibióticos.

O tempo à nossa disposição está a acabar, e portanto temos que agir a fim de promover e empreender as indispensáveis modificações comportamentais, a fim de incrementar o nível de conscientização e a eficácia das intervenções preventivas, para intensificar o controlo das infeções e usar corretamente os antibióticos. A este respeito, as dezenas de milhares de centros de saúde e instituições de formação médica e de cuidados de saúde geridos pela Igreja, assim como os que têm como referência outras organizações religiosas, estão na posição ideal para favorecer um apoio constante, e para «empreender ações individuais e de grupo finalizadas a promover atividades sociais e médicas úteis para contrastar o surto e a propagação da AMR.

As comunidades religiosas, quer a nível institucional quer local, estão na posição justa para promover iniciativas eficazes e sustentáveis a fim de fazer face ao problema».5

Deixando o âmbito clínico aos peritos, desejo frisar algumas iniciativas identificadas pelas organizações confessionais para que as comunidades se comprometam a realizar uma mudança comportamental imediata e de alto nível, a fim de reduzir o surto e a propagação da AMR: «Incrementar a conscientização e a educação acerca de métodos de prevenção e controlo das infeções; Sensibilizar em relação ao impacto individual e comunitário derivante do uso impróprio dos antibióticos e da sua automedicação; Instaurar um clima de conscientização no âmbito da comunidade a fim de aumentar o nível de atenção, de melhorar a prevenção e o controlo das infeções e, sobretudo, de incrementar a confiança nas vacinas; Fazer com que sejam confiáveis e sustentáveis tanto o acesso à água e aos recursos de saneamento básico, como o seu uso».6

Estas e outras iniciativas indicadas pelos responsáveis políticos e pelas autoridades da saúde pública podem efetivamente desencadear na comunidade a mudança de comportamento tão necessária para fazer face ao surto e difusão da resistência aos antibióticos. Recomendo à Bem-Aventurada Virgem Maria, Salus infirmorum, todos os nossos esforços para enfrentar este desafio da saúde pública do nosso tempo.


1 Organização mundial da saúde, Campaigns/World Antibiotic Awareness Week, 12-18 November 2018.

2 Ibid.

3 Cardeal Pietro Parolin, Intervenção no encontro de alto nível sobre a resistência antimicrobiana, Nova Iorque, 21 de setembro de 2016.

4 Ibid.

5 Workshop for Catholic-inspired and other faith-based organizations, Combating the Emergence and Spread of Antimicrobial Resistance: A Workshop to Strengthen Faith-Based Engagement, Rome Italy, December 12-15, 2016.

6 Ibid.