Mais de 596 mil novos casos de câncer vão ser diagnosticados no Brasil, em 2016, segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca). A doença é uma das que mais matam em todo o mundo, com cerca de oito milhões de mortes por ano. Mas nos últimos anos, o tratamento de câncer tem evoluído e proporcionado uma nova realidade para as pessoas que enfrentam a doença. E foi sobre esse assunto que o oncologista do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), Carlos Hummes, palestrou durante o último dia do Congresso Médico Amazônico, realizado em Belém (PA).
Para o médico, o tratamento de câncer será completamente diferente daqui a 20 anos. E uma das explicações consiste nos avanços sobre imuno-oncologia, um subgrupo de pesquisa que, agora, está dando os frutos que foram plantados há mais de 40 anos. “Sempre se teve a ideia de que tratávamos o câncer ao utilizarmos substâncias tóxicas para matar as células do câncer e, muitas vezes, matávamos as células de defesa”.
O problema é que o sistema imunológico não tem capacidade de reconhecer a célula cancerígena como se fosse um agente invasor – como acontece com bactérias e vírus, por exemplo. E, por isso, não acontece a reação que seria esperada contra algum organismo que potencialmente pode prejudicar ou levar o organismo à morte. “E não acontece porque a célula cancerígena é muito esperta. Ela sabe driblar nosso sistema imunológico. Então, através da ligação de algumas proteínas chamadas PD1 (programmed death, ou morte programada, em português) ela inibe o reconhecimento do nosso sistema imunológico. É como se usasse um disfarce”, explica o médico do HRBA.
O pesquisador norteamericano James Allisson tem sido o responsável por abrir os caminhos para os avanços na imunoterapia. Ele é ganhador do prêmio Louisa Gross Horwitz e está cotado para receber o Prêmio Nobel de Medicina, por conta de sua pesquisa sobre o assunto. Para o oncologista Carlos Hummes, a imuno-oncologia será o futuro do tratamento de câncer. “O advento dessas drogas virou a oncologia de ponta cabeça. O nosso tratamento mudou radicalmente. E eu acredito que, em breve, talvez nos próximos 10 a 20 anos, a gente vai ouvir muito menos de quimioterapia no câncer e ouvir só basicamente de tratamentos imunológicos e tratamentos com drogas que alvejam especificamente um objetivo molecular no câncer. É uma revolução fantástica”, finaliza.
Congresso
A estudante Luciana Oliveira, que cursa o 7º semestre de Medicina na Universidade Federal do Pará (UFPA), acompanhou a palestra e elogiou o tema escolhido. “Foi uma palestra muito boa, principalmente, para entender como funciona o tratamento de câncer. Além dele, falar de medicamentos, como atuam e quais são as novidades, ele falou sobre como nosso organismo responde frente a uma agressão como o câncer”. Outra acadêmica de Medicina que assistiu à explicação foi Ana Paula Araújo, que cursa o 3º semestre na Faculdade Metropolitana da Amazônia (Famaz). “É muito interessante como ele trouxe a visão atual do tratamento. Por mais que a gente tenha um tratamento em que acredite que seja bom, ele ainda é muito agressivo, e as novas pesquisas vêm criando melhorias que não se imaginava”, conta.
A Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar foi uma das apoiadoras do 18º Congresso Médico Amazônico, que aconteceu até o dia 27/04 no Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, em Belém (PA).