O Brasil precisa falar sobre saúde preventiva

Mudança de cultura pode melhorar significativamente os resultados do sistema, beneficiando pacientes e os próprios profissionais da saúde.

O brasileiro envelhece mal e ainda desenvolve doenças que poderiam ser evitadas, como a hipertensão, o diabetes ou mesmo enfermidades crônicas que afetam o pulmão — um dado nada animador para se recordar no Dia Mundial da Saúde, lembrado neste 7 de abril.

Uma pesquisa publicada em 2018 pelo Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros, mostrou que sete em cada dez entrevistados chegaram aos 50 anos de idade com uma ou mais doenças crônicas — justamente as que mais causam

mortes de pessoas no Brasil e no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Entre essas doenças estão as não-transmissíveis. Ou seja, os males que desenvolvemos por questões biológicas, genéticas ou por hábitos devastadores para nossa saúde, como sedentarismo, fumo, má alimentação — apenas para ficar em alguns exemplos.

Para o médico Fernando Paragó, o pouco interesse por saúde preventiva não é uma exclusividade brasileira. “Mesmo nas culturas orientais, os sistemas de saúde não foram desenhados para promoção de saúde e prevenção de doenças”, ele diz.

Na origem, ensina Paragó, todos estes sistemas de saúde nasceram da necessidade de devolver pessoas à condição de trabalharem, quando eram acometidas por algum agravo. “Este vício de origem criou sistemas hospitalocêntricos, que não são centrados na promoção e prevenção”, acrescenta o médico.

Ou seja, temos um sistema de saúde que não é focado para evitar que as pessoas fiquem doentes, mas que foi desenvolvido para tratar a doença — algo, teoricamente, muito mais caro e limitante para nossas vidas.

Como promover a saúde preventiva

Defensor da promoção e prevenção de saúde, Paragó tem se esforçado para ampliar essa possibilidade em seu ambiente profissional. Ele é diretor Corporativo Médico da Pró-Saúde, uma das maiores gestoras de saúde do país.

Mas ele pontua que o caminho para o avanço das práticas preventivas deve ser economicamente viável, considerando, inclusive, uma reformulação no modelo de financiamento e pagamento pelos serviços dentro do SUS (Sistema Único de Saúde).

“É necessário redesenhar os sistemas de saúde”, afirma o médico e executivo. “A começar pela forma como os serviços prestados são renumerados, ou seja, por produção. Isto, mesmo no âmbito do SUS”, acrescenta.

Paragó aponta que hoje “embora muito se fale sobre alternativas de desenho da prestação do serviço e, consequente, remuneração, pouco tem sido efetivamente feito, ou mesmo testado neste sentido — condição necessária para tornar viáveis os investimentos em promoção e prevenção”.

E o caminho seria focar na estrutura capaz de fortalecer a Atenção Primária (composta por médicos, profissionais da Enfermagem, equipe multiprofissional e agentes de saúde) como porta de entrada para a saúde preventiva.

Redução de custos e maior investimento

Em 2022, o Ministério da Saúde contabilizou R$ 143 bilhões investidos no SUS. Desse total, porém, menos do que um terço (24,4%) do valor foi destinado à saúde preventiva — dado que corrobora com a importância de revisão do sistema atual.

“Veja como este dado reforça o que eu disse. A estrutura é desenhada para prestação de serviços de restabelecimento da saúde, o que consome mais de dois terços dos recursos. Não há espaço para realocação de recursos sem revisão da estrutura”, afirma Paragó.

Segundo ele, “até existem iniciativas pontuais para fortalecimento e financiamento de estruturas de promoção e prevenção, mas uma estratégia sistêmica e coordenada precisa ser implementada”.

Embora essa condição de dificuldade ainda prevaleça, no entendimento do médico executivo, já é possível perceber uma tendência que vem sendo implementada por startups e operadoras de saúde no segmento privado.

“Muito do que se vê hoje é restrição de acesso, e não práticas de atenção primária propriamente dita. De toda forma, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e importantes players do mercado privado, têm buscado incentivos sustentáveis para esta reestruturação”, explica Paragó.

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