Dia do Médico

Médica compartilha experiências de sua trajetória profissional

Já nasci querendo ser médica, porque desde cedo, nas brincadeiras de crianças, eu era a pediatra e os meus outros coleguinhas levavam as bonecas para serem consultadas por mim

O exercício da medicina é uma prática milenar e sua história está ligada a diversos aspectos envolvendo fases e diferentes civilizações. São várias situações que envolvem o mundo da medicina e suas particularidades. Ontem, foi comemorado o Dia do Médico, profissional que, em muitos casos, renuncia diversos aspectos da vida privada para uma entrega abnegada em prol dos pacientes.

No Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, unidade do Governo do Estado e gerenciada pela Pró-Saúde, constrói-se uma história bem especial com a criação de laços afetivos estabelecidos entre médico/paciente. É o caso de Renata Mariscal, 43 anos, paraense, natural de Belém, mãe de um menino de 8 anos e, diga-se de passagem, ele conhece todos os pacientes da mãe.

Rememorando parte da infância vivida no Município de Barcarena, região Metropolitana de Belém, ela conta que já nasceu querendo ser médica, porque, desde cedo, nas brincadeiras de crianças, sempre se autointitulava a pediatra e os seus outros coleguinhas levavam as bonecas para serem consultadas por ela. O sonho de criança foi concretizado, graduou-se em Medicina pela Universidade Federal do Pará, há 18 anos. Renata faz parte do time de médicos da área de Oncopediatria do Oncológico Infantil.

Durante toda sua trajetória como médica, afirma que tomou conhecimento de muitos casos, mas um, em especial, ela considera marcante. Foi o de uma criança portadora de um linfoma. Ela lembra que no momento foi bem difícil, pois o quadro do paciente era grave. “Passávamos as informações para a mãe com dor no coração, porque as notícias nunca eram boas. Era um momento superdelicado para ela e para mim”, relembra.

O que a médica não esperava aconteceu. Em um certo dia, conta Renata, o paciente acordou e disse: “eu sonhei com um anjo e ele disse que eu vou ficar bom! Que vai ficar tudo bem!”. E em poucos dias depois ele recebeu alta hospitalar. Sobre essa experiência vivida no Oncológico Infantil Octávio Lobo a médica revela que “é uma satisfação ver atualmente o paciente chegando no ambulatório, fora de tratamento há 3 anos, fazendo apenas o acompanhamento”.

Um outro momento muito significativo na carreira como médica foi poder “testemunhar” a realização do noivado de um paciente muito querido por toda a equipe médica do hospital. “Ele estava debilitado, usava cadeira de rodas, mas estava bem feliz. Esse evento foi um presente para todo mundo. Foi um momento muito especial. Inesquecível”, lembra saudosa, com olhos mareados e voz meio embargada.

De todos os vários pacientes que são bem próximos existe o caso de Theylon Daniel, um adolescente que adora jogar games. Para a médica ele “é um jovem muito amado”, pois é um dos primeiros pacientes do hospital. “Há quase 5 anos estamos juntos. Minha relação com os pequenos pacientes é muito próxima. O laço afetivo é muito forte porque eles ficam bastante tempo aqui. O tratamento é longo e o convívio diário faz com que essa aproximação aconteça. É inevitável”, justifica.

Renata é daquelas pessoas emotivas e que se apega facilmente. “Costumo dizer que as crianças são as melhores pessoas do mundo. E são. Elas me acolhem. Todo dia que chego para trabalhar, venho sempre com a certeza de que tudo vai dar certo, pois estamos atravessando só uma etapa. Sempre digo que tudo vai passar, que temos que pensar de forma positiva e ter fé”.

A médica lembra do dia em que passou a integrar a equipe do hospital. “Quando eu ingressei no Oncológico Infantil foi impactante para mim. Câncer infantil era um assunto que eu conhecia, mas pouco. São tantas histórias, hoje não me vejo fora dessa instituição. Ela é a minha segunda casa”, finaliza.

O Oncológico Infantil é gerenciado desde a sua inauguração pela Pró-Saúde, entidade filantrópica que realiza a gestão de serviços de saúde e administração hospitalar há mais de 50 anos. Em todo o país, são 16 mil colaboradores e mais de 1 milhão de pacientes atendidos por mês, é uma das maiores do mercado em que atua no Brasil.

Um pouco de História da Medicina no Pará

O médico Aristóteles Guilliod de Miranda, que há anos tem se dedicado à pesquisa, é autor do artigo intitulado ‘A medicina no Estado do Pará, Brasil: dos primórdios à Faculdade de Medicina’. Nessa produção científica, ele aborda sobre a prática da medicina, a organização dos serviços de saúde e o início do ensino médico no Estado do Pará. Dentre outros fatos, o médico comenta os aspectos relacionados ao ensino médico, tanto no âmbito nacional quanto no Estado do Pará, bem como sua importância para a Região Amazônica e parte do nordeste brasileiro.

Ele apresenta os fatos históricos em uma perspectiva cronológica apontando que no “no final da década de 1830 três paraenses que haviam se formado em medicina retornaram a Belém. Eram eles os médicos Francisco da Silva Castro, Joaquim Frutuoso Pereira Guimarães e José da Gama Malcher. Todos teriam posição de destaque na sociedade paraense”.

Outro aspecto curioso na história envolvendo a medicina foi com o fim do ciclo da borracha no Pará o surgimento da Sociedade Médico-Cirúrgica do Pará, que, segundo o pesquisador, foi “fundada em 12 de julho de 1914”, sendo “instalada oficialmente em 15 de agosto do mesmo ano, quando tomou posse sua primeira diretoria. Esta data ficaria registrada para os festejos dos anos de criação.

Constituída pela elite médica do Estado, sob a presidência do Dr. Camilo Salgado”. O pesquisador informa ainda que “a Sociedade se propunha a zelar pela ética médica, defender os interesses da classe, discutir questões médicas e científicas, organizar congressos e conferências, difundir ensinamentos de higiene para a população, manter comissões científicas para os diversos ramos das ciências médicas, criar uma revista e fundar uma biblioteca e arquivo, dentre outras coisas. A revista manteria o nome da editada pela Sociedade Médico-Farmacêutica do Pará: Pará-Médico.

A Faculdade de Medicina do Pará, posteriormente Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, a oitava a ser criada no Brasil, até a década de 1960 desempenharia um papel preponderante para a medicina em toda a Região Amazônica e parte do nordeste brasileiro, sendo considerada peça fundamental na criação da Universidade Federal do Pará.

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