Um a cada oito bebês nascidos no HU é filho de mãe adolescente

Um a cada cinco bebês nascidos por ano no Brasil é filho de mãe adolescente. O dado é do Datasus (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde). Em 2016 nasceram 431 mil bebês de mães com idade entre 11 e 19 anos. No Hospital Universitário de Jundiaí (HU) este índice – nestes primeiros quatro meses de 2017 – é um pouco menor, um a cada oito bebês que nascem no hospital é filho de mãe nesta faixa etária. De janeiro a abril deste ano, foram realizados em média 336 partos por mês, 12,5% deles em mães adolescentes.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde) a gravidez na adolescência é considerada uma gestação de alto risco, pois o corpo jovem ainda não está completamente formado para a maternidade, o sistema emocional fica abalado e estes fatores podem contribuir para consequências maiores para a saúde da mãe e do bebê. Especialmente quando não há o acompanhamento adequado do pré-natal.

O médico ginecologista e obstetra Francisco Pedro Filho, do HU, explica que os problemas mais comuns para a saúde da gestante adolescente são hipertensão e anemia. Já os bebês podem nascer prematuros, antes da 37ª semana de gestação, com baixo peso, transtornos de desenvolvimento e até má formação.

Na opinião do médico, além dos riscos físicos e psicológicos, o risco social deve ser levado em consideração. “É comum a jovem parar de estudar ou trabalhar, causando efeitos ao longo da vida”, diz ele. Fato que é comprovado em estudo realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada): 76% das brasileiras com idade entre 10 e 17 anos que têm filhos não estudam e 58% não estudam e nem trabalham.

Abrir mão desta vivência social para essas jovens não é tarefa fácil, há um medo muito grande de serem rejeitadas socialmente. Em 66% dos casos, segundo o Ministério da Saúde, a gravidez adolescente é indesejada e não planejada. É um momento de muitos conflitos internos (psicológicos: depressão, medo, insegurança) e externos (sociedade: escola, trabalho, família, amigos). E é aqui que entra o papel da família e, claro, do futuro pai, que normalmente é jovem também.

“De modo geral as famílias reagem de forma positiva e isso é muito importante, pois garante o apoio necessário para que a jovem realize o acompanhamento pré-natal. Os pais costumam acompanhar na realização dos exames e se interessam pelos resultados”, relata o médico.

De acordo com o dr. Pedro Filho, o pré-natal da gestante adolescente precisa ser diferenciado e envolver uma equipe multidisciplinar, com acompanhamento de um psicólogo, por exemplo. “O médico escolhido para acompanhar a gestação tem que ser paciente, acolhedor, usar um linguajar que a paciente entenda, jamais fazer julgamentos. Para acompanhar o desenvolvimento do bebê e a saúde da mãe serão necessários alguns exames a mais que o normal. Este público abandona facilmente o acompanhamento pré-natal e daí é que ocorre o aumento do risco obstétrico”, alerta.

A história se repete

Normalmente os pais dos bebês são tão jovens quanto às mães e ambos precisam amadurecer rápido para dar conta das responsabilidades que terão pela frente. O suporte dos avós do bebê acaba sendo fundamental. Dr. Pedro Filho explica que de modo geral, nas famílias em que a jovem engravida com 13, 14 ou 15 anos, por exemplo, já existe histórico semelhante da mãe, irmãs ou avós e que o fato costuma se repetir nas futuras gerações.

Fatores

Salvo raras exceções, em sua maioria a gravidez precoce está relacionada a fatores como: baixo índice sócio econômico, busca de ascensão social, baixa escolaridade e desestrutura familiar. “Muitas vezes essa menina não tem muitas perspectivas de vida, não tem sonho de estudar para ser uma jornalista ou uma médica, por exemplo, o seu plano de vida é engravidar, tornar-se mãe, ela foi criada para isso. Então, ao invés de esperar os 20 ou 25 anos para realizar este plano, ela prefere antecipar, não vê razão para esperar. E assim não se previne”, relata o especialista.

Outro ponto que interfere na decisão da jovem em engravidar é que muitas vezes o pai do bebê tem uma condição de vida pouco melhor que a sua. “É uma questão de ascensão econômica, pois ela normalmente vive numa família de baixa renda na qual o dinheiro é pouco e tem de ser dividido com mais membros da família. Quando ela tem o filho, tem a ilusão que vai passar a viver com o pai da criança, a renda do companheiro será apenas para os três. Nem sempre é assim.”, diz.

Conselho

Atualmente o Ministério da Saúde investe em políticas de educação em saúde e em ações para o planejamento reprodutivo. No entanto, de acordo com o dr. Pedro Filho, a família também precisa participar para que a decisão de ter um filho seja a mais acertada possível, afinal, é para a vida toda. “Importante é ter a presença da família na vida das jovens, ter muito diálogo. Se aos 12, 13 ou 14 anos elas estão namorando um garoto de 17, 18 ou 20 anos, com certeza já iniciaram sua vida sexual. É preciso orientar sobre a vida sexual, ter cuidado, ser um pouco mais rígido e valorizar a estrutura familiar”, orienta.