Hospital Regional de Marabá incentiva segurança no trânsito

Há sete meses, a rotina de Sharle Macedo Almeida, de 25 anos, mudou. Ele trocou o trabalho na roça, onde ajudava o pai na produção leiteira, por um repouso forçado. Seu dia se resume aos cuidados com a própria saúde após um grave acidente de motocicleta, sofrido em uma vicinal no município de Brejo Grande do Araguaia. 'Pensava que nunca ia acontecer comigo. Mas sempre tem a primeira vez. Depois dessa experiência, eu não vou mais misturar álcool e direção', lamentou ele.

No Hospital Regional do Sudeste do Pará – Dr. Geraldo Veloso (HRSP), onde Sharle está internado há duas semanas, metade dos leitos são ocupados por vítimas de acidentes de trânsito. A maioria delas têm entre 15 e 39 anos e são homens. Gerenciada pela Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar sob contrato com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), a unidade é referência em atendimento de trauma de média e alta complexidades para 22 municípios da região.

Como recebe a maioria dos casos graves do sudeste do Pará, ao longo desta semana, a instituição alertou a população sobre as principais sequelas desses acidentes. A programação fez parte da terceira edição do programa 'Direção Viva', ação de caráter contínuo, que acontece em todas as unidades de saúde públicas gerenciadas pela Pró-Saúde no Pará. A iniciativa tem o objetivo de promover ações de educação em saúde voltadas à segurança no trânsito. Em Marabá, especialmente neste mês, ela integrou o movimento 'Maio Amarelo'.

Seu Ederson Maciel da Silva, de 54 anos, recebeu as orientações repassadas pelos profissionais do hospital nesta sexta-feira, 26/5, durante uma blitz educativa realizada em uma das rodoviárias de Marabá. Ele conhece, de perto, as marcas que os acidentes provocam nas vítimas. 'Em 2007, sofri um acidente de moto. Dormi na direção e, infelizmente, minha esposa faleceu. Hoje, mais do que nunca, tenho todo cuidado no trânsito', contou o senhor.

O mototaxista Paulo das Neves Filho, de 36 anos, que também participou da blitz educativa, elogiou a iniciativa. 'É muito importante que todos tenham consciência sobre esses perigos. Essa informação precisa ser multiplicada', disse. Os riscos aos quais o motorista se referiu são, principalmente, falta de atenção, distância de segmento e desobediência à sinalização, as três principais causas de acidentes em Marabá, em 2016, de acordo com o Departamento Municipal de Trânsito e Transporte Urbano de Marabá (DMTU). No caso das infrações, 36,5% se referem à falta de capacete e 28,5% ao não uso do cinto de segurança. 

Rede de apoio

Dentro da unidade, colaboradores e usuários também foram orientados sobre o assunto. Alex Rodrigues, de 38 anos, foi à unidade para fazer um raio-x na última segunda-feira, 22/5, e recebeu as instruções enquanto aguardava a chamada para o exame. A psicóloga Carolina Pinheiro e a assistente social Iara de Freitas explicaram sobre os principais danos socioeconômicos causados pelos traumas de trânsito e como funciona a rede de atendimento a esse paciente no Hospital Regional de Marabá.

'Ninguém está preparado sofrer um acidente. Com isso, a vida da vítima e de toda a sua família precisa ser reorganizada para o tempo de recuperação necessário. Mais ainda quando a sequela é permanente. Dessa forma, enquanto está internado, a unidade dá o suporte necessário com atendimento psicossocial e médico, para minimizar esse sofrimento', comentou a psicóloga.

Alex Rodrigues ouviu atento as orientações e comparou a sua situação atual a de vítimas de acidentes. Ele lembrou também que recebeu esse apoio quando esteve internado na unidade, em fevereiro deste ano. 'Hoje não tenho o movimento de um dos joelhos porque fui ferido a bala em um assalto. Embora não tenha sido um acidente de trânsito, minha situação é praticamente idêntica porque estou fora do mercado desde o ocorrido, ando de muleta e deixei de fazer muitas coisas das quais gostava, como jogar futebol', disse o mecânico industrial.

Formação de multiplicadores

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os acidentes de trânsito são a principal causa de morte de adolescentes de zero a 19 anos no mundo. Por isso, nesta edição, o 'Direção Viva' foi levado para escolas públicas. No colégio estadual Pequeno Príncipe, nas Folhas 32 e 26, alunos do terceiro ano do ensino médio participaram de um bate-papo com a coordenadora de Humanização do HRSP, Caroline Nogueira, e agentes do DMTU.

De acordo com Caroline, a proposta é fazer com que esses jovens adotem uma postura positiva no trânsito e sejam multiplicadores dessa informação. 'Os levantamentos dos órgãos oficiais de trânsito mostram que a maioria dos acidentes podem ser evitados. Então, com a atitude certa, conseguimos reduzir esses índices e melhorar a qualidade de vida da população da nossa região. Precisamos contar com todos porque o trânsito seguro é responsabilidade de cada um', afirmou a fisioterapeuta.

Para o coordenador de Educação do DMTU, Rogério Matias, na região, a falta de consciência dos pais, quanto aos perigos da direção, é um dos agravantes. 'Infelizmente, é cultural na nossa região, o pai perguntar ao filho se prefere uma festa ou uma motocicleta ao completar 15 anos. Mas o filho não tem idade para ter habilitação', denunciou.

Sequelas

Pacientes vítimas de acidentes de trânsito, nos casos mais graves, apresentam múltiplas fraturas. No Hospital Regional de Marabá, muitos chegam com traumatismo cranioencefálico e fraturas nos membros inferiores (tíbia, fíbula e fêmur) e superiores. Por isso precisam de uma abordagem multidisciplinar, envolvendo várias especialidades médicas, como Traumato-Ortopedia, Neurocirurgia, Cirurgia Geral, Cirurgia Vascular e Cirurgia Plástica.

A importância do atendimento multiprofissional foi detalhada na roda de conversa realizada nesta quinta-feira, 25/5, no hospital, com a participação do médico Pablo Borges, do coordenador de Estatísticas do DMTU, José Edigley Lima, do coordenador de Educação do DMTU, Rogério Matias, da assistente social Iara de Freitas, da psicóloga Carolina Pinheiro, do fisioterapeuta Ghylsonn Ribeiro e da nutricionista Nathália Lobato.

Mesmo com abordagens diferenciadas sobre o assunto, os profissionais foram unânimes: é preciso atuar de forma conjunta e rápida para reduzir os indicadores. 'O trauma é uma doença e a terceira causa de morte no Brasil. Precisamos trabalhar a prevenção porque a realidade é impactante', frisou o médico.

Valdeniza Barbosa, de 44 anos, participou do bate-papo. 'Achei bom, principalmente porque incentivou o envolvimento dos pais nisso. Um dos meus filhos tem moto. Eu sempre peço para ele tomar cuidado, aconselho, mas quando chegar em casa, vou falar de novo', adiantou a pescadora, que acompanha a internação da mãe na Clínica Médica.

Direção Viva

O programa 'Direção Viva' busca disseminar a informação sobre o impacto dos acidentes de trânsito na sociedade, bem como, formar multiplicadores no processo de combate à insegurança no trânsito. Em Marabá, nas três edições, mais de 500 pessoas participaram da programação, que envolveu blitz educativa, palestras educativas, rodas de conversa, exposição de memorial e missa em memória das vítimas.

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