Hospitais da Pró-Saúde vão atuar a favor da consciência no trânsito

“Sei que meu acidente poderia ter sido evitado, principalmente porque eu estava alcoolizado”, lamenta Lucival Monteiro da Silva, de 58 anos. “E ainda estava sem capacete. Foi por muito pouco que não perdi a vida. Agora luto para recuperar a minha perna, que quebrou em cinco partes”. O relato de um morador de Igarapé-Açu, município do nordeste paraense, vítima de acidente de moto, mostra que um momento de distração ou imprudência, pode ter consequências graves. O acidente de Lucival foi há quatro meses. Hoje, ele está internado no Hospital Público Estadual Galileu (HPEG). Na mesma unidade de saúde, há vítimas de acidente de trânsito cujo tratamento prossegue há mais de três anos. É o caso de Eduardo Sandres Sarmento, 31 anos, morador do distrito de Outeiro. “Bebida, festa, diversão, que eu gostava muito de ir, não posso mais. Agora tudo mudou na minha vida. Mas, sei que vou melhorar, só me resta esperar”, resigna-se outro condutor de moto. A exemplo de Lucival, Eduardo também havia ingerido álcool e estava sem capacete.

O impacto dos acidentes de trânsito na sociedade, bem como o combate à insegurança no trânsito, movem o projeto Direção Viva: você consciente, trânsito mais seguro, promovido pelos hospitais públicos do Pará, administrados pela Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar sob contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Palestras, rodas de conversa, além de um memorial para lembrar as vítimas fazem parte da programação que inicia amanhã, dia 18/11, e vai até o final do mês de novembro.

Atendimentos

Nos últimos três anos, mais de 35 mil vítimas foram atendidas em quatro hospitais públicos do Pará. No Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, que atende média e alta complexidades em traumas, são 4.940 atendimentos a vítimas de acidente de trânsito, sendo 2.413 a motociclistas, no período de janeiro a outubro de 2016. O restante são colisões (1.527), atropelamentos (778) e acidentes de bicicleta (222). No ano passado, a unidade, localizada em Ananindeua, registrou 7.499 atendimentos a vítimas de acidente de trânsito, sendo que 3.315 a acidentes de moto.

Já no Hospital Galileu, unidade que atua como retaguarda ao Metropolitano e que atende em sua maioria vítimas de algum trauma ortopédico, os registros chegam a 1.417 internações em 2014 na clínica de ortopedia; em 2015, o número de internações chegou a 3.499. Este ano, até outubro, já se registra 3.078. Casos esses, transferidos justamente, do Hospital Metropolitano.

Em Marabá, o Hospital Regional do Sudeste do Pará Dr. Geraldo Veloso (HRSP) já realizou 1.742 internações até outubro deste ano, número já superior ao ano de 2014 (1.620) e inferior ao ano de 2015 (1.955). 

Em Altamira, o Hospital Regional Público da Transamazônica (HRPT) realizou 663 internações de pacientes vítimas de acidentes de trânsito até outubro deste ano. Se comparado a 2014 (603 internações) e 2015 (637 internações), as estatísticas apontam para um número crescente.

Custos

Em média, um paciente vítima de acidente de moto gera custo de internação na ordem de R$7,2 mil no Hospital Metropolitano. Considerando os últimos três anos, a unidade de saúde estima que o impacto foi de cerca de R$80 milhões aos cofres públicos específicos ao tratamento destinado a vítima de acidentes de moto. Recursos públicos que poderiam ser investidos em patologias naturais, como acidente vascular cerebral, clinica médica e saúde do idoso.

Há casos em que a imprudência do condutor ou mesmo do passageiro gera um impacto de cunho social. Gerson Martins dos Santos, 64 anos, foi vítima de atropelamento de motocicleta. O acidente ocorreu em agosto de 2016, no município de Marituba, região metropolitana de Belém. “Meu maior desejo é voltar a andar. A minha perna não é só para eu caminhar, é para eu voltar a trabalhar, a produzir, a sustentar a minha família”. Para Gerson, além da recuperação física, também há uma carga psicológica. “Quando acontece, nós temos que aceitar com respeito e moral, temos que encarar com a realidade e a finalidade de ter certeza de que vamos melhorar”. A vida mudou também para o lavrador Derval Carneiro Campos, 33 anos. 'No trânsito é preciso ter cuidado, atenção e amor ao próximo. Com certeza isso ajudaria a diminuir o número de acidentes. A vida muda do dia para a noite e ficar dependendo de outras pessoas para tudo é muito ruim'.

Os óbitos também são casos rotineiros. O pedreiro Raimundo Prestes da Silva, 48 anos, perdeu um amigo. “Meu amigo que estava comigo na moto morreu na hora. Por isso digo que nasci de novo. É muito difícil estar nessa situação, internado. Eu estava começando a construir a minha casa e precisou parar a obra”.

Já Romecilda Sousa Santos, 35 anos, era nora de Martim Saraiva de Souza, de 67 anos, que faleceu no início deste mês. “A responsabilidade no trânsito é de todos: pedestres, ciclistas e motoristas. Meu sogro faleceu ao tentar atravessar a rua. Ficou o vazio pela perda que poderia ter sido evitada”.

Segundo o diretor Operacional da Pró-Saúde no Pará, Paulo Czrnhak, é primordial que a população saiba quantos leitos são ocupados nos hospitais públicos em situações que poderiam ser evitadas. 'Se cada condutor agir com prudência no trânsito, vidas serão salvas e assim, a segurança do cidadão, será ampliada. Mas principalmente, teremos menos dores nas famílias e a redução de perdas na sociedade. Precisamos resgatar o valor à vida', explicou o diretor.

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