Estudo sobre Zika dá prêmio internacional à pesquisadora do IEC

Convidada a participar de um congresso no mês passado para falar de sua recente pesquisa sobre as consequências do Zika Vírus no cérebro de bebês infectados no Brasil, a coordenadora de Neuropatologia do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (IEC), Leila Chimelli, teve uma grande surpresa quando ao final do evento foi anunciada vencedora do Moore Award como melhor trabalho de correlação clínico-patológica em neuropatologia.

O estudo “Aspectos Neuropatológicos da Infecção Congênita pelo Vírus Zika no Brasil” iniciou em fevereiro passado, quando ocorreram duas mortes pelo vírus no país, em Campina Grande (PB). Conhecida no meio acadêmico por suas pesquisas neuropatológicas, que incluem trabalhos sobre dengue, Leila foi convidada a analisar os infectados e confirmar uma possível correlação com o vírus.

“Já se falava no mundo todo sobre o aumento de incidência de casos de microcefalia desde o ano passado, e muitos dos meus colegas neuropatologistas, dos Estados Unidos e da Europa, me enviaram e-mails em janeiro perguntando se eu já havia analisado algum caso. Em fevereiro analisei essas duas ocorrências na Paraíba. Em seguida colaborei com outro caso em Pernambuco, e no mesmo mês me contataram do (Instituto Nacional) Fernandes Figueira com outra ocorrência. Já eram quatro casos para serem analisados”, disse a médica.

Foi quando a pesquisadora soube do congresso promovido pela American Association of Neuropathologists (Associação Americana de Neuropatologistas), ao qual restava apenas um dia para registrar trabalhos participantes. “Eu fiz contato para explicar o assunto do meu estudo, e tamanho foi o interesse que eles abriram uma exceção e aceitaram minha inscrição tardia. Meu trabalho foi selecionado para uma apresentação oral e fui muito elogiada pelos participantes, mas não esperava receber um prêmio por isso”, comentou.

O resumo de sua pesquisa já foi publicado em duas grandes revistas do meio acadêmico: o Journal of Neuropathology & Experimental Neurology, da Associação Americana, e a revista Clinical Neuropathology, da Confederação Europeia de Neuropatologia. O periódico de maior impacto na área, a Acta Neuropathologica, da Alemanha, está aguardando a finalização da pesquisa para divulgar o estudo completo.

Com a ocorrência de novas mortes, a médica Leila Chimelli continua sua pesquisa sobre as lesões cerebrais provocadas pelo vírus. Um dos maiores desafios é descobrir por que a estatística é muito maior no Nordeste do País. Segundo dados do Ministério da Saúde, até 9 de julho deste ano, foram confirmados 1.446 casos naquela região, contra 119 na região Sudeste, por exemplo.