O Globo Online / BR – Professor de música volta a tocar piano dez dias após retirar tumor no cérebro

RIO — Com parte da cabeça raspada, o professor de música Ailton Oliveira, de 33 anos, não deixa transparecer à primeira vista o drama que atravessou. Em fevereiro, retirou um tumor (um glioma na região lobotemporal, que comprometia a coordenação motora) no Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (IEC), no Centro. Dez dias depois, na primeira consulta de revisão, para retirar os pontos da cirurgia, o professor — que há muito não tocava um instrumento musical — viu o piano do hospital e, primeiro, quis tirar uma foto ao lado. Depois, sentou-se e dedilhou uma canção. Logo era acompanhado por uma plateia de funcionários, pacientes e médicos.

O reencontro de Ailton com sua paixão, a música, é mais um caso de superação, dos muitos ocorridos no instituto.

PARA A EQUIPE, GRATIDÃO É A MAIOR RECOMPENSA

Histórias como a de Ailton são a melhor recompensa para o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, que está à frente do instituto desde sua inauguração, em junho de 2013.

— O trabalho do Instituto do Cérebro é uma satisfação muito grande. Quando atendemos pacientes do SUS, temos contato com pessoas muito simples, que estão sofrendo muito. Você recebe dessas pessoas uma enorme gratidão. Essa é a maior recompensa que o médico pode ter — resume Niemeyer.

Ailton toca piano após ser operado, enquanto Eliete canta – Custódio Coimbra / Agência O Globo

Ailton é o retrato dessa gratidão explícita.

— Estava nas mãos dessas pessoas. Se não fosse o estudo, a dedicação e o trabalho desses médicos, poderia não estar vivo para contar esta história — disse Ailton, lembrando um pedido que fez ao médico pouco antes da operação. — Peguei na mão do cirurgião e disse a ele que meus alunos estavam esperando a minha volta para dar aula.

VOLTA POR CIMA

Outra história de superação é a da técnica de enfermagem Eliete Almeida Viana Costa, de 55 anos. No fim de 2013, ela foi surpreendida com a notícia de que tinha oito aneurismas. Depois de passar por três cirurgias no Instituto do Cérebro, Eliete já está em recuperação — por sinal, ótima — e faz planos como estudar teologia e ajudar outras pessoas contando seu próprio caso.

— Aqui no Instituto do Cérebro, você não é só um número de prontuário. É uma pessoa especial — contou Eliete.

A cantora Rita Onório Ferreira, de 54 anos, também teve a vida transformada. Ela foi encaminhada para o IEC com diagnóstico de neuralgia do trigêmeo (compressão vascular do nervo), que provoca uma dor incapacitante na face. Por conta da doença, ficou impossibilitada de cantar. Rita lembra que chegou a um ponto em que não podia mais comer: só ingeria líquido, com a ajuda de um canudo. Era um sacrifício escovar os dentes, sorrir e até chorar. Ela foi operada em fevereiro de 2014. Quatro meses depois, já cantava.

— Era uma cantora que não sorria. Algumas pessoas pensavam até que eu fosse mal-humorada, mas era muita dor. Sentia choques na face — lembrou.

NOVOS PROJETOS

Primeiro centro do país voltado para o tratamento neurocirúrgico de doenças do sistema nervoso central, como tumores, enfermidades vasculares e Parkinson, o Instituto Estadual do Cérebro completou dois anos de funcionamento. Desde sua inauguração até agosto, foram feitas 2.388 cirurgias e 20.173 atendimentos ambulatoriais, além de 42.458 exames (ressonâncias magnéticas, tomografias computadorizadas, hemodinâmica, de raios X, ecocardiograma e eletroencefalograma). Com uma equipe de 191 médicos, conta com quatro centros cirúrgicos, nove consultórios, 40 leitos de UTI adulta e quatro de UTI pediátrica, além de dois para pacientes com epilepsia.

— O Instituto do Cérebro é um projeto pioneiro. Não existe no Brasil nenhum instituto público que seja exclusivamente para o tratamento das doenças cerebrais. Acho que este modelo deveria ser replicado pelo Brasil afora, porque é um sucesso — avaliou Niemeyer.

Entusiasmado, ele se enche de orgulho ao falar dos novos projetos, como o de um prédio de 12 andares numa área livre do IEC, voltado para a pesquisa nos campos de genética, biologia molecular e treinamento de microcirurgia, entre outras atividades. O Instituto do Cérebro também contará com laboratório de pesquisa, sala de estudos e centro de conferência. Segundo a Secretaria estadual de Saúde, o custeio mensal do Complexo Hospitalar do Cérebro — que engloba o Instituto Estadual do Cérebro e o Hospital Estadual de Anchieta, no Caju — é de R$ 14,2 milhões. O projeto da unidade recebeu quase R$ 80 milhões em obras e equipamentos de última geração.

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